Senhor Presidente,
é com especial alegria que recebo Sua Excelência no Quirinal por ocasião da Visita de Estado que está a realizar na Itália.
Guardo lembranças muitíssimo gratas da viagem por mim realizada em Portugal em 2017.
Os sentimentos de extraordinária amizade que me expressou em Lisboa e no Porto e a calorosa hospitalidade do povo português são testemunho dos laços que unem os nossos Países, os quais partilham uma herança cultural que constitui a melhor síntese das nossas relações.
E a nossa história – que se tem desenvolvido em torno das mesmas raízes – desemboca numa partilhada visão da Europa e do Mundo contemporâneos.
O apelo subscrito por 21 Chefes de Estado da União Europeia por ocasião da eleição do Parlamento Europeu é testemunho disso.
Nunca como hoje, “cidadania europeia”, integração e unidade constituem elementos essenciais para estarmos presentes no cenário internacional.
A Itália, tal como Portugal, reconhece-se plenamente na tradição política do multilateralismo. O diálogo constitui o instrumento mais eficaz para a paz e a mútua compreensão entre os povos.
Nutrimos sensibilidades comuns e divisamos idênticas responsabilidades em relação ao futuro da União Europeia.
Estamos, ambos, conscientes de que chegámos a uma viragem decisiva no percurso de integração, para podermos, completando a arquitetura da União, satisfazer plenamente as necessidades e os desejos dos nossos cidadãos e das nossas comunidades.
Sei que se trata de temas próximos da Sua sensibilidade e da do povo português.
Precisamos, dentro da União, todos juntos, de ter coragem!
Também por esta razão, olhamos com confiança para a Presidência de turno do Conselho da União Europeia que Portugal assumirá no primeiro semestre de 2021, certos de que se tratará de um momento no qual a colaboração se tornará ainda mais estreita.
Senhor Presidente,
investigação, ciência, proteção e valorização do património cultural constituem o “elo forte” da identidade europeia.
Este ano comemoramos o quingentésimo aniversário da morte de Leonardo da Vinci - celebrado também em Portugal com diversas iniciativas – mas também os quinhentos anos da navegação de Fernão de Magalhães, cujas gestas foram transmitidas pelo vicentino Antonio Pigafetta.
Dois acontecimentos que podemos considerar etapas dum percurso entusiasmante, o da civilização europeia, na incessante exploração de novos horizontes.
Nesse percurso, portugueses e italianos têm-se encontrado sempre próximos num compromisso que se renova.
Penso, por exemplo, na Associação dos Cientistas e Investigadores Italianos em Portugal, intitulada à matemática grega Hipácia de Alexandria, que concretiza aquele desejo de profícuo confronto que desde sempre liga na investigação científica a viagem das nossas mentes melhores a caminho de novos horizontes.
Penso, ainda, nos grandes arquitetos portugueses e italianos que, numa relação de inspiração recíproca, têm concebido o viver comum das nossas cidades ao longo dos séculos, de Nasoni a Renzo Piano, até Eduardo Souto de Moura, cujo génio foi celebrado com o Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza.
Desejo mencionar, no campo das artes criativas, o escultor Rui Chafes e a sua relação com Matera, bem antes que a cidade se tornasse capital europeia da cultura, e Leonor Antunes, excepcional protagonista – este ano – da Bienal de Arte de Veneza.
A adesão da Itália, enquanto observador associado, à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa oficializa o interesse suscitado pela língua de Camões e de Fernando Pessoa e de numerosos outros autores portugueses como David Machado e Lídia Jorge, hoje muito conhecidos também aqui.
Senhor Presidente,
experiências e sensibilidades partilhadas levam-nos a ter em especial atenção o papel que as Universidade desenvolvem ao contribuírem para sociedades dinâmicas e abertas, renovando a experiência dos “clerici vagantes”.
Alegra-me que, também para Sua Excelência, esta visita se conclua numa Aula universitária. Na Universidade mais antiga do mundo, a de Bolonha, que decidiu atribuir-Lhe o prestigiado Sigillum Magnum.
Bolonha como Coimbra, bem antes do nascimento dos Estados-nação, representou um lugar de agregação cultural e civil, alicerces da consolidação de um pensamento europeu.
Com estes sentimentos, Senhor Presidente, é-me grato erguer o cálice à amizade entre os nossos Países e ao bem-estar Seu e dos povos de Portugal e Itália.